Não é só Diogo Costa! Cláudio Ramos e João Costa usaram a braçadeira no passado fim de semana: o primeiro pela equipa principal e o segundo na equipa B. Nunca houve tanta liderança na baliza numa só temporada
Houve um tempo no FC Porto em que ser guarda-redes e capitão ao mesmo tempo dividia opiniões e até motivava a intervenções de treinadores. Co Adriaanse, por exemplo, via em Vítor Baía um líder, mas não um capitão, e não hesitou em escolher jogadores de campo que considerava mais aptos para a função. Baía, ainda assim, foi um dos grandes capitães dos azuis e brancos. Helton foi outro dos donos da baliza que envergou a braçadeira do FC Porto, mas mesmo ele, quando Vítor Pereira era treinador, abdicou dela por considerar estar mais exposto à punição dos árbitros.
Serve a introdução para assinalar um aspeto raro no futebol português e inédito na história dos azuis e brancos: neste fim de semana, Cláudio Ramos foi capitão dos dragões na partida com o Celoricense, da Taça de Portugal, e João Costa envergou a braçadeira no primeiro triunfo na Liga 2 do FC Porto B, frente ao Marítimo (1-0). Quer isto dizer que em 2025/26, os três principais guardiões dos azuis e brancos assumiram papel de destaque como líderes das equipas, com Diogo Costa a sentar-se no trono, por ter o papel permanente de capitão no FC Porto.
A 'regra do Capitão'. Pedro Henriques explica
Não há muitos guarda-redes na Liga a assumir o papel de capitão. No Santa Clara, Gabriel Batista tem esse estatuto, assim como Charles, do V. Guimarães. Com a adoção da ‘Regra do Capitão’, é necessário nomear um jogador de campo para representar um guarda-redes com braçadeira perante o árbitro. No FC Porto, essa função é normalmente desempenhada por Alan Varela.
Pedro Henriques, especialista em arbitragem de A BOLA, explica o espírito da ‘Regra do Capitão’. «Devo dizer que a ‘Regra do Capitão’ não está a ser bem aplicada, não só Portugal como em todo o mundo. Quando o VAR intervém, o árbitro deve fazer o sinal com a mão esticada para avisar que ninguém venha ter com ele e sinalizar a presença dos dois capitães. Porquê? Imaginemos que o VAR demorou mais tempo na análise ou que o árbitro tem de ir ao monitor: é este tipo de explicações que se dá aos capitães, afastando os outros jogadores. A ‘Regra dos Capitães’ não é impedir essa ligação com os jogadores, mas para momentos de tensão ou conflitualidade. Para evitar que alguém que está na baliza tenha de atravessar o meio-campo ou um campo inteiro para resolver uma situação na outra área, surgiu essa normativa. Quando o capitão é o guarda-redes, delega num jogador de campo. Esse jogador vai ao sorteio, porque é uma maneira que o árbitro tem de demonstrar à outra equipa e a todas as pessoas que àquele jogador foi delegada essas funções. Portanto, serve sobretudo para momentos de tensão e para que o guarda-redes não tenha de fazer piscinas para resolver situações que o jogador de campo tem mais facilidade pela proximidade ao árbitro.»
Três líderes fortes
O guarda-redes capitão não perde influência se no grupo for reconhecido como líder, como Diogo Costa, que ingressou no FC Porto com 11 anos, quando começou a jogar pela equipa de sub-13 em 2011, e soma mais de 200 jogos pelos azuis e brancos. A ligação de Cláudio Ramos não é tão umbilical, mas os seis anos de extrema dedicação aos dragões, sempre no ingrato papel de segundo homem da baliza, legitimam a sua presença entre as vozes mais influentes do balneário
João Costa, por seu turno, tem toda a uma vida ligada ao FC Porto, apesar de ter saído em 2018 para construir uma carreira em Espanha (Cartajena, Mirandés, Granada e Real Murcia), antes de regressar a Portugal para representar o Feirense e, na época passada, o Estrela da Amadora. Campeão na formação, trouxe com ele o espírito indomável de um portista de coração, aliás vertido em variadíssimas intervenções, esta temporada. O ‘andorinha’, como é carinhosamente tratado (começou a jogar em Barcelos, em Os Andorinhas, daí a alcunha), mudou-se em 2006 para o FC Porto, onde passou por todos os escalões de formação até fazer a estreia como sénior na equipa B.
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