Trincão passou de mota pelo estacionamento em segunda fila (crónica)

 



Moreirense quis empatar, Sporting quis ganhar. Terminou da forma mais lógica, mas o resultado final é extremamente enganador quanto às dificuldades sentidas pelo campeão


O resultado parece dizer outra coisa, mas foi a ferros que o Sporting arrancou a vitória sobre o Moreirense que lhe permite recuperar o segundo lugar da Liga e afastar um adversário que até esta segunda-feira trazia no bornal os mesmos pontos que o campeão.


Dispostos a deixar tudo empatado em termos de golos e pontos no final da jornada, os verdes e brancos de Moreira de Cónegos vestiram-se de cor-de-rosa choque/salmão/avermelhado e preencheram meio-campo nessa cor viva desde o início da partida. Primeiro num 4x2x3x1 muito compacto, mais tarde num 5x4x1 descomplexado. Sempre à espera do que o Sporting fizesse, numa expectativa aliás muito bem estudada, visto que foi sendo quase sempre anulada com facilidade.


O Moreirense defendeu de forma moderna, atenção. Não trouxe os pitons em riste nem agressividade excessiva, tanto que só mesmo a terminar o jogo um seu jogador viu cartão amarelo. Juntou os blocos, tapou os caminhos e foi muito solidário. Não trouxe o autocarro, mas estacionou estrategicamente em segunda fila, o que normalmente até irrita mais os condutores que querem seguir com a sua vida.


Nas saídas de bola em pontapé de baliza juntava quatro defesas em torno da área e os dois primeiros passes circulavam entre eles e o guarda-redes, até que um aviasse um chuto longo para o outro meio-campo, igualzinho ao que teria saído direto à primeira. Mas sempre fica a imagem de um futebol mais positivo.


O conforto dos visitantes estava difícil de combater pelos donos da casa, que foram igualmente donos do jogo do primeiro ao último minuto, sem registo de um sobressalto que seja junto da sua área. Acontece que o Sporting também não estava muito desenvolto no seu jogo e foi-se deixando enervar pelos tais carros estacionados em segunda fila que impediam a boa circulação. O público foi apoiando, mas também se foi enervando, sobretudo depois de um intervalo que, pensou-se em Alvalade, poderia trazer a chave para outro jogo.


Não trouxe, ficou quase tudo igual. Quando mexeu a partir do banco, Rui Borges insistiu no modelo e trocou peças sem mexer na engenharia da equipa, na esperança (aliás cumprida) de os substitutos fazerem melhor que os substituídos.


O Moreirense ia fazendo o seu jogo, ora entregando a bola ao Sporting para mais um ataque, com os tais pontapés de longe, ora trocando a bola a meio-campo e retardando a reação leonina, numa prova de que se calhar haveria ali mais futebol para ver. O expediente visitante incluiu, a dada altura, a última moda do futebol, com o guarda-redes a queixar-se de lesão após uma bola parada, mesmo não intervindo no lance, ou o treinador a impedir um seu jogador de efetuar um lançamento lateral de forma rápida.


São detalhes estratégicos. Não são ilegais e muitas vezes funcionam. Quando funcionam há que saber tirar o chapéu aos estrategas que conseguem um ponto acima das contas previamente feitas. Ou mesmo três, embora isso, neste jogo de Alvalade, fosse virtualmente impossível tal a ausência de jogo ofensivo do Moreirense.


Quando a estratégia não funciona — o que mesmo assim corresponde à maior parte das vezes — fica uma tremenda sensação de justiça. A justiça que Francisco Trincão muito buscou e encontrou em dois lances nos quais os defesas visitantes foram pouco lestos e acabaram a cometer penálti. Os leões converteram ambos e resolveram este problema, tendo ainda tempo de ampliar a vantagem na compensação. Vêm aí, para todos os candidatos ao título, mais jogos como este. Mas pelo menos que tragam uma pontinha de ameaça à baliza mais conceituada...


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