'Visão de golo' é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo avançado internacional português
O Benfica vive um virar de página especial, passados que foram dois fortes e inesperados soluços competitivos que abanaram a estrutura. No entretanto, chegou alguém cujo trajeto único faz elevar as expetativas de todos. Um acontecimento à escala mundial, tal o nome e carreira de quem falamos. A chegada de Mourinho entusiasma os adeptos do Benfica e faz temer os demais. A famosa expressão já em desuso, chicotada psicológica, tradicionalmente usada na substituição de treinadores, volta com renovado significado, assinalando a chegada de um verdadeiro mestre na arte de produzir efeito. Ninguém se imaginaria melhor para, nesta fase, revitalizar a equipa. O poder influenciador de um discurso reforça as equipas e faz acreditar os atletas. A sua convicção é uma imagem de marca que mobiliza os jogadores e os adeptos seguidores que, na sua curiosa verdade, também entram em campo. Com a estreia vitoriosa e merecida nas Aves, iniciou-se mais uma fase de grande exigência competitiva e ficava lançado o regresso de ontem à Luz de um treinador marcante.
A primeira parte deste confronto com o Rio Ave não correspondeu à grande expetativa que se criara. O Benfica aparecia com o mesmo onze das Aves, mas amorfo e pouco agressivo no ataque, frente a uma equipa forasteira junta e bem posicionada. A segunda metade deu uma equipa mais dominadora e agressiva, empurrando o adversário para trás. A diferença que parecia decisiva acabou por acontecer pela entrada dos alas, principalmente do estreante Lukebakio, especialmente influente nos desequilíbrios que provocou e na assistência para Sudakov marcar. Quando nada o faria prever, surgiu a obra de arte de André Luiz e repetiu-se o final inglório que deu o empate. Mourinho referiu, antes deste jogo, que prefere e é mais eficaz passar ideias em campo do que qualquer vídeo ou conversa com os jogadores. No entanto, essa compreensível preferência vai ter que esperar, tal a densidade do calendário que aí vem. Agora, a recuperação mental torna-se essencial e prioritária, porque um novo confronto se avizinha. Tem a palavra toda a equipa.
Sudakov, o tal
O homem que faltava. Difícil é não gostar da maneira como o novo reforço tempera e filtra as suas ações. A maturidade e a simplicidade que demonstra nas decisões técnicas que toma. Não é só a capacidade de passe, mas sim o momento que seleciona para o executar. Ainda jovem, não responde forçosamente a uma desmarcação se não achar o momento ideal. Como eu, vai contra a suposta obrigatoriedade de passar a quem se desmarca. A moda do respeitar a desmarcação, que alguém inventou, não tem qualquer sentido e Sudakov é um exemplo de quem não responde ao primeiro estímulo para decidir o que fazer. A qualidade no passe, mas também a gestão da posse de bola.
Cabeça ou músculo
Casemiro, médio do Manchester United, foi um dos protagonistas da vitória do seu clube contra o Chelsea, que em breve o Benfica encontrará. É difícil explicar como é que a imensa experiência do internacional brasileiro permite um excesso que quase punha em causa uma vitória pela qual Amorim ansiava. Tentando entender o descontrolo do jogador, o facto da posição de Casemiro ser de grande esforço físico, leva-o a cometer mais faltas e erros. Quanto maior o cansaço menor o esclarecimento dos atletas e o perigo disciplinar espreita, ainda mais, como no caso, porque já tinha sido amarelado. Neste, como noutros episódios, o primeiro aviso não foi suficiente e a falta que o expulsou é tão clara que quem não perceba o fenómeno, acharia quase digna de um apostador furtivo. Se nos lembrarmos, o mesmo aconteceu com Florentino, um jogador exemplar, no jogo na Turquia para a Liga dos Campeões, também sem interferência no resultado, felizmente para ambos os trincos e para os respetivos clubes. Na realidade, as equipas estão sujeitas, tanto a intervenções de talento individual que ganha jogos, como a ações desastrosas que os podem perder.
'Flick time'
O futebol profissional exige disciplina e muitas qualidades aos seus profissionais. Teoricamente uma das regras mais fáceis de cumprir são os horários definidos. Não é preciso talento, mas só rigor e respeito pelas regras mais básicas que regem uma organização ou grupo. Alguns dos nomes mais sonantes do plantel do Barça já sofreram com a regra do relógio. Ao contrário de outras situações, esta é uma regra objetiva, numérica, sem espaço para interpretações. Os atrasos são penalizados não com multas, que em certas realidades não fazem qualquer diferença, mas sim com castigos desportivos, que jogam com o ego dos rapazes e significam descer ao banco de suplentes. O último contemplado foi Marcus Rashford, o internacional inglês recém-chegado à equipa de Flick.
Bola de Ouro
Dembélé era muito justamente um dos principais favoritos a receber o sempre importante prémio anual de ouro. Ser campeão europeu e comandante goleador do ataque da melhor equipa do mundo é significativo. A humildade demonstrada em palco e o reconhecimento público da sua grandeza por Messi e Mbappé só confirmam o seu caráter e o merecimento do troféu. Soube evoluir e adaptar-se a uma nova e difícil posição no centro do ataque, com sucesso talvez inesperado. É hoje um jogador diferente e o seu esforço defensivo amplia a sua importância coletiva. Um craque completo! Mas porque nem tudo é bom, a bola de lata, se houvesse, podia ser dada, com justiça, ao pai de Yamal, cuja reação confirma, mais uma vez, o porquê de certos sinais do seu filho, que vão revelando alguma fragilidade educativa. Já sabemos porquê.
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