O internacional português talvez seja o ativo que o Sporting menos foi capaz de proteger nestes anos. E quem diz o Sporting diz também quem o rodeia. Já é a história de Gonçalo, e não Pedro (ou Beto), e o lobo
Nunca achei grande piada à Bola de Ouro. Sou mais ou menos como Cristiano, só que as minhas entranhas revolvem-se desde quase sempre, não apenas desde que deixei de ganhar, uma vez que nunca ganhei. Nem poderia. Ou alguma vez conseguiria. Todos os prémios, exceto os de melhor marcador — em que se conta quantas vezes a bola entrou legalmente na baliza —, são subjetivos e servem apenas para alimentar egos.
Os organizadores não são parvos e defendem-se há muito para que se mantenha viva a festa — ainda mais num salão caríssimo como aquele. Criam tendências como a de premiar quase sempre um indivíduo da equipa campeã ou que arrecadou o maior caneco da sala — e, eventualmente, deixam o melhor jovem fora do critério para desenjoar. Ou não. Já agora, sabem aquela piada da France Football ter de andar atrás do Real Madrid para acabar com a birra relativa ao ano passado? É para rir, não é?
Assim, Rui Borges foi o melhor treinador mesmo que não o tenha sido. Não só não se olha abaixo dos grandes como também não se têm em conta as dúvidas — vindas até de dentro de Alvalade — enumeradas aqui antes, sobre se é ou não o homem certo para o Sporting? O clássico devolveu as que o arranque efusivo desvanecera e a pressão voltou.
Menos desconfiança teremos sobre Gyokeres enquanto melhor jogador, sobretudo graças aos golos, porém Quenda como o melhor jovem numa temporada abaixo da de estreia e em que Mora ascendeu de forma vertiginosa a melhor jogador do FC Porto pode discutir-se, mesmo neste momento menos bom.
Depois, numa ambiciosa tentativa de Pedro Proença e pares de desafiar a racionalidade para manter o Bicho contente — se não acaba por te devorar — ofereceram-lhe o Prémio Melhor de Sempre. Melhor de sempre a jogar na Liga? Melhor de sempre a sair da Liga? Melhor de sempre, pronto. Entre sorrisos amarelos e outros mais genuínos, visitou-se um Hollywood dos pequeninos. Absoluta perda de tempo, quando o futebol português está parado há muitos anos. Podiam ter aproveitado o encontro para algo de útil e sairia mais barato.
Não quero ser cruel para ambos, porém, Gonçalo Inácio candidatar-se-ia, se existisse, a um prémio Beto. A comparação faz-se sobretudo ao nível de tantas capas sem fumo branco, que mais os prejudicaram do que lhes fizeram bem, tal como ao clube. Mesmo que possa ganhar aumento considerável com novo contrato.