Hospitais e orfanatos que cuidam de pacientes com HIV/AIDS no Haiti temem o impacto da decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de cortar mais de 90% dos contratos de ajuda externa da USAID e US$ 60 bilhões em ajuda total no mundo todo.
Mais de 150.000 pessoas no Haiti têm HIV ou AIDS, embora se acredite que o número seja muito maior.
Marie Denis-Luque é a fundadora e diretora executiva da CHOAIDS (Caring for Haitian Orphans with AIDS), uma organização sem fins lucrativos que cuida de órfãos haitianos com HIV/AIDS na cidade de Cap-Haitien, no norte do país.
Ela se preocupa com o futuro e explica que os suprimentos médicos durarão apenas até o final de julho.
“Não sabemos o que vai acontecer depois disso”, acrescentou.
Em uma casa administrada pela CHOAIDS, mulheres soropositivas cuidam de 26 crianças, algumas com apenas 9 meses de idade.
A casa ficava na capital do Haiti, Porto Príncipe, até 2023, quando a violência de gangues forçou uma mudança para a cidade costeira de Cap-Haïtien.
Denis-Luque diz que os medicamentos são essenciais no cuidado de crianças com HIV.
A medicação contra o HIV ajuda a controlar a infecção e proporciona a muitas pessoas uma expectativa de vida média.
Sem ela, o vírus ataca o sistema imunológico da pessoa, e ela desenvolve AIDS, o estágio avançado da infecção pelo HIV.
Após os cortes na USAID, Denis-Luque iniciou uma busca frenética por doações, mas não recebeu nenhuma resposta.
“Não posso vê-los morrer”, ela disse à Associated Press, com a voz embargada pela emoção.
Em um hospital perto de Cap-Haïtien, o Dr. Eugene Maklin luta para cuidar de mais de 550 pacientes com HIV.
“Se não encontrarmos medicamentos nos próximos dias, isso levará ao desastre”, alerta.
Todo ano, ele recebia mais de US$ 165.000 para ajudar pacientes com HIV/AIDS, mas esse financiamento acabou.
Agora, ele prevê que em dois meses o hospital não terá mais nenhum medicamento contra o HIV.
No início da semana, um vídeo mostrando dezenas de pessoas soropositivas marchando do lado de fora do escritório do primeiro-ministro do Haiti em Porto Príncipe circulou nas redes sociais, provocando surpresa nos espectadores.
Os manifestantes não esconderam os rostos e falaram abertamente com os repórteres, uma ocorrência rara em um país onde ter o vírus ainda é altamente estigmatizado.
Eles correram o risco de serem rejeitados pela sociedade ao alertar que o Haiti está ficando sem medicamentos para o HIV e ao pedir que o governo aja imediatamente.
Especialistas dizem que o Haiti pode ver um aumento nas infecções por HIV porque os medicamentos estão diminuindo em um momento em que a violência de gangues e a pobreza estão aumentando.