Javi García, antigo médio do Benfica, 38 anos, foi adjunto de Roger Schmidt na Luz e agora quer lançar a carreira como chefe de equipa, com Portugal no pensamento
— Deixou os relvados e deixou depois a equipa técnica de Roger Schmidt, no Benfica. O que tem andado a fazer?
— Estou a recuperar o tempo perdido em relação à família, estou a tentar passar mais tempo com as minhas filhas [Amália, Camila e Malena] e a minha mulher [Elena]. Estou a fazer coisas normais. Gosto de cozinhar, gosto de levar as minhas filhas a todo o lado. Fim de semana, passar tempo com a família, cinema. Moramos em Lisboa, tem tudo, tem mar. Levo as minhas filhas ao surf, à ginástica, faço um pouquinho de Uber [risos]. A minha mulher está a cobrar o tempo que não passei em casa. Mas também estou a aproveitar para crescer como pessoa, estou a estudar idiomas.
— Jogou na Rússia, em Inglaterra, em Portugal. Que idiomas?
— O inglês, graças a Deus, já está quase. A minha filha mais velha gosta muito de aprender idiomas e estou com ela a aprender também francês. E estou a ver muito futebol. A ver outras ideias, a conhecer outros treinadores. Para quando chegar o dia de voltar ao futebol, que é algo que tenho muita vontade de fazer. Estou muito bem, muito tranquilo, mas vai chegar o dia em que vou ter de voltar.
— Tem saudades?
— Tenho. Só fiz uma coisa na vida e foi jogar futebol. E as minhas últimas épocas foram como treinador, como parte de um staff técnico. Estou sempre com a família no Estádio da Luz a ver os jogos. As minhas filhas adoram. Estou a ver o jogo e sinto saudades. Mas mais como treinador do que como jogador.
— Mais como treinador do que como jogador… porquê?
— Já falei sobre isso com meus colegas. Como jogador, era uma pessoa que levava tudo para casa.
— Sofria mais?
— Muito, muito. Quando sentia que não fazia um bom treino, que não fazia um bom jogo. Na minha cabeça ficavam sempre os erros. Para sair de um jogo a pensar que tinha jogado bem, tinha de ser um jogo mesmo perfeito. E fazer um jogo perfeito é quase impossível. Então, sentia quase sempre que podia dar mais e levava isso para casa. E não eram só os jogos, eram os treinos também. Então, sofria.
— Como treinador foi diferente porquê?
— Não é o mesmo, mas é verdade que há muita responsabilidade. Eu não fui treinador principal, mas há uma pressão muito, muito grande. Aliás, às vezes até é mais pressão do que para os jogadores. Mas ainda não fui treinador principal. E desfrutava do que estava a fazer no Benfica, não sentia essa pressão que tinha como jogador.
— E qual é a meta? Ser um treinador principal de sucesso?
— Há jogadores que sabem que vão ser treinadores no futuro. Comigo não aconteceu. Eu comecei a pensar em ser treinador mais perto do final da carreira. E no Benfica vivi tudo isso por dentro. Conheci esse mundo e realmente gostei. Então, estou a preparar-me. Gostaria imenso de ser treinador, de começar em Portugal, porque sinto-me em casa. Sempre foi uma opção, para mim e para a minha mulher, morar cá e começar a minha carreira como treinador aqui seria muito especial.
— Fale-nos das suas habilitações.
— Na época passada tirei o curso UEFA A, falta-me tirar o último, o UEFA PRO. Gostaria de ter este ano para mim, mas é algo que, logicamente, irei fazer.
— Se fosse presidente de um grande clube europeu, que treinador contrataria?
— Poderia dizer nomes que todos conhecemos, mas gosto muito de um treinador. Conheci-o na academia do Real Madrid, jogámos juntos e agora é treinador, do Celta de Vigo. Claudio Giráldez. Está a fazer uma época espetacular. Já na época passada, quando apanhou a equipa, fez trabalho espetacular. Gosto de como ele vê o futebol. Mas gosto mais ainda de como ele trata os jogadores. De ver no final de um jogo como os jogadores cumprimentam o treinador. Para mim, diz muito.
— A parte humana pode ser mais importante do que o sistema tático?
— Para mim, é quase tão importante. Em todos os trabalhos do mundo, se a cabeça não está bem, se não estás feliz com o que estás a fazer, é muito complicado ver o teu melhor. A parte pessoal e a parte mental são muito importantes. Quando os jogadores falam sobre o Claudio vejo que há um trato pessoal muito bom e que estão prontos para dar o seu melhor pelo treinador. Vai ter uma carreira de muito sucesso.
— Treinador espanhol, alemão, português, ‘tiki-taka’... Tem um estilo preferido?
— Não saberia eleger um, mas gosto muito, logicamente, do treinador espanhol. E o treinador português... somos muito parecidos. Vou colocar o treinador espanhol e português quase a par. Mas também gosto muito da mentalidade do treinador alemão.
— Onde é que essa mentalidade diverge?
— Na verticalidade. Olhar para frente. Temos o exemplo de Hansi Flick no Barcelona. Sempre a olhar para frente. E gosto muito disso. Aliás, os adeptos do Barcelona estão a voltar a desfrutar do jogo da equipa, vão de novo ao estádio desfrutar. Sabem que vai ser um jogo muito atrativo, aberto. Gosto de uma mistura entre treinador espanhol, português e alemão.
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