José Mourinho: a lua de mel acabou cedo

 



O aguardado regresso de José Mourinho à Luz desiludiu e a águia já está atrás do Sporting e a quatro pontos do FC Porto. E, num ápice, o clássico no Dragão ganha contornos quase dramáticos


Não é fácil, para qualquer treinador, entrar com o comboio em andamento. Chame-se ele José Mourinho, Pep Guardiola, Carlo Ancelotti ou Jurgen Klopp. E Mourinho sabia-o, não gostasse ele de desafios ao nível da ilustre carreira que tem.


Entrou com o pé direito fora de campo, agarrando a nação benfiquista nas conferências de apresentação. Era imperial fazê-lo depois de meses em que Bruno Lage sempre esteve longe, muito longe, de ser consensual, mas foi o próprio a rapidamente querer assentar a poeira e virar a agulha para o que mais importa(va): recuperar a identidade perdida de uma equipa que, com o antecessor, se habituou a jogar poucochinho.


O jogo na Vila das Aves não serviu para encher a barriga, a primeira parte roçou o deprimente, e Mourinho meteu um dedo ao intervalo. Apareceu outra equipa para a segunda parte e, frente a um dos candidatos à descida, o problema lá se resolveu.


Ontem, na Luz, o cenário repetiu-se e é bastante revelador da tal falta de identidade que o Benfica não tem e que FC Porto e Sporting, por exemplo, têm: na liga portuguesa, começar os jogos a passo, julgando que o golo aparecerá, é um convite a que os adversários ganhem confiança. A esta letargia que os encarnados têm mostrado não ajudam as constantes adaptações e que, por si, revelam um plantel desequilibrado e sem profundidade, sobretudo no ataque, onde é gritante a falta de criatividade.


Depois de mais de 100 milhões de euros gastos no mercado, Aursnes, o bombeiro de serviço, voltou a acabar um jogo a lateral-esquerdo, como nos piores tempos de Roger Schmidt e com Obrador no banco! Mourinho quis que Ivanovic fosse falso extremo esquerdo para dar a zona central a Sudakov e o Rio Ave agradeceu, nem precisando de defender em bloco baixo para conter as tímidas investidas da águia.


Na segunda parte, o Benfica apertou, foi mais vertiginoso e perigoso com Schjelderup e Lukebakio — continuo sem compreender e entender a moda do futebol sem extremos, sobretudo sem laterais que funcionem como tal —, mas André Luiz tinha outra ideia para responder à ebulição da Luz com o golo de Sudakov. É difícil prever o futuro, mas é fácil lembrar o passado e o José Mourinho de antigamente não teria permitido que o Rio Ave fosse buscar o empate depois de se colocar a vencer aos 86'.


O clássico no Dragão está aí a bater à porta, o FC Porto de Farioli está bem e recomenda-se e o Benfica corre o risco de sair dele a sete pontos de distância. E as eleições são daqui a um mês...

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